"Gabriela atravessou entre eles, impávida e risonha, uma flor nos cabelos, um requebro de dengo e a liberdade inteira. [...] Nada desejou nem pretende além de liberdade e amor. Livre onde todas eram escravas, distribuindo o amor onde o vendiam a retalho."
Essas palavras de Jorge Amado descrevem bem a poesia da personagem título do livro "Gabriela Cravo e Canela (1958)". O romance aclamado pelo Brasil e outros países, traduzido para diferentes idiomas, recebeu uma adaptação para televisão em 1975, se tornando uma novela de sucesso da Rede Globo com cenas memoráveis e a consagração da atriz Sônia Braga que viveu Gabriela no folhetim. E anos depois a morena reviveu a personagem nos cinemas, no filme de 1983 dirigido por Bruno Barreto.
O remake da novela está marcado para estrear dia 18 de junho e conta com Juliana Paes no papel principal. O trabalho feito por Juliana em muito se parece com a primeira imagem criada e estabelecida para a personagem Gabriela. A pele de cor canela queimada do sol, o longo cabelo cacheado, roupas simples de cor árida, terrosa, o suor escorrendo no corpo, as curvas, a meninice, o rosto puro, natural, e o olhar de Gabriela.
Sônia Braga e Juliana Paes. As duas Gabrielas. |
O texto de Walcyr Carrasco vai recontar para nova geração, que ainda não viu ou não leu o romance, o destino da retirante nordestina que vai tentar a vida em uma cidade chamada Ilhéus no estado da Bahia. Lá ela vai conhecer Nacib (Humberto Martins), dono de um bar na cidade, e de imediato os dois vão se encantar um pelo outro. A trama conta com outros núcleos e com outros personagens, mas o romance intenso de Gabriela e Nacib que irá conduzir toda a trama.
A nova versão será ambientada nos charmosos anos 20 e a figurinista da novela Labibe Simão teve todo o cuidado na hora de criar as peças das mulheres de Ilhéus. Vestidos tubulares, cintura baixa, cabelos curtos e muitos chapéus compõem o visual da novela. A figurinista procurou também incrementar separando dentro da tendencia da época, estilos diferentes que combinassem com a personalidade de cada personagem. E o interessante mesmo foi a mistura de peças criada para o figurino. A recriação de modelos reais da época junto com peças atuais, como os acessórios e as bolsas selecionados para completar o visual anos 20, fizeram diferença. Existe hoje na moda uma grande influência dessa época, estamos vendo cada vez mais nas passarelas, nas capas de revistas e nas ruas, a geometria, os tubinhos e as franjas características de 1920. Hoje está fácil encontrar por ai nas lojas esses materiais e a produção da novela usou essa vantagem na composição do figurino. A supervisora de caracterização Juliana Mendonça trabalhou nas particularidades visuais entre beatas, prostitutas, românticas e golpistas, selecionando cores, cortes, decotes e acessórios que evidenciam a personalidade e o estilo das personagens.
01. O preto e o brilho dominam o visual das meninas da casa de shows Bataclan. Muita cor forte, meia arrastão, plumas e paetês bem ao estilo cabaré. Ivete Sangalo está atuando em sua primeira novela. Decidida a investir na carreira de atriz, a cantora vai interpretar Maria Machadão dona da casa de shows Bataclan.
02. As beatas da cidade procuram o visual mais tradicional da época, sem decotes, cores mais suaves, puristas e muito adorno e bordados em flores. Fabiana Karla vai viver Olga uma das beatas da trama.
03. A personagem Malvina (Vanessa Giácomo) é feminista e livre dos conceitos de sociedade da época. Diferente das moças de Ilhéus, ela queria se formar, estudar na capital e ser independente. Focada em seus sonhos profissionais ela torce o nariz para o compromisso e não se vê casada com nenhum rapaz da cidade. Seu estilo diferente é bem desenhado em seu figurino, a geometria contrastada das estampas, a discrição nos acessórios e os cabelos com corte prático e moderno para época.
Já a caracterização de Juliana Paes para viver Gabriela foi mais livre desses padrões da época retratada pela novela. A retirante Gabriela não tinha luxo, ou preocupação para se enfeitar ou usar roupas apropriadas para aquele lugar. As roupas da personagem são de uma modelagem mais simplista, com pouca estampa, geralmente de alcinha e feita com tecidos em algodão.
A sensualidade da personagem independe do figurino, porque com pouca indumentaria ou adereços ela conseguia chamar a atenção dos homens da cidade sem muito esforço, somente com um escorregar de alças. Explica Juliana Paes:
- "Acho que a característica da Gabriela mais fascinante e que também é um pouco inusitada para as pessoas, é a força dela. Não é uma maluquinha qualquer que procura achar as coisas. Ela é forte e tem a noção de que sobreviveu para chegar onde chegou. Quando chega à cidade, por exemplo, onde a vida é mais fácil, a comida é mais fácil, a água é mais fácil, aí sim ela se sente no paraíso, porque já passou por muita necessidade como: fome, sede, falta de lugar para dormir... Esse passado difícil é o que faz dela a mulher forte que é agora."
Para compor a personagem Juliana passa por um processo de maquiagem antes das gravações. Muito pó e base com tons mais escuros que a pele real da atriz, aproximam o tom de sua pele a da cor canela, queimada de sol. O que ficar mais próximo da real retirante nordestina baiana criada por Jorge Amado. Juliana Paes também parou de cortar os cabelos, tendo que deixar todas as pontas duplas e ressecadas, e parou de fazer a sobrancelha para se aproximar da realidade da personagem, sem vaidade ou cuidados. Na caracterização também não é aplicado batom, blush, rímel ou lápis no olho. Gabriela é da beleza natural, xucra e crua.
Pelas imagens e videos que já foram divulgados, o visual da novela parece lindo e pretende encantar todo mundo. Não vai ser muito difícil agradar, com um elenco estrelado que inclui Ivete Sangalo, o talento de Walcyr Carrasco, a beleza de Juliana Paes, a curiosidade gerada por conta de um remake e uma produção impecável, tudo caminha para o sucesso. Agora a ansiedade só vai aumentar pra ver mais uma vez Gabriela subir no telhado, cena essa que é um marco da TV brasileira e lembrado pelos saudosistas da época. Quem não quer ver?
E é claro que a gente torce pra novela ser ótima e agradar, gostamos de coisa boa e bem feita, e essa tem tudo pra ser marcante. De novo.
GABRIELA CRAVO E CANELA
ResponderExcluirAutoria: José Bonifácio / Inspirado no lindo romance do genial Jorge Amado. Postado no blog: www.bonipoesia.blogspot.com
Nacib lança seu olhar vazio
Por toda casa procurando ela
Chocolate amargo
Da traição provara
Ainda sente o cheiro
De cravo e canela.
Em seus pensamentos
Até perdoara
Pois sente falta da morena bela
Já não é mais doce
Chocolate amarga
Saudades, de Gabriela.
Sultão sente falta
De lindas cochas
Seios fartos
Quitutes dela,
Volta Bié, pro moço bonito
Que hoje chora por Gabriela.
Cabrocha linda
Flor no cabelo
Chocolate doce
Quero provar
Abençoados por Jorge Amado
Na linda Ilhéus, vamos casar.