MAPEANDO ESTAMPAS

É costumeiro vermos por ai muitas estampas florais, geométricas e até com animais, com a produção têxtil precária aqui no Brasil fica realmente limitado as opções para as marcas e estilistas. Com uma pequena variação entre estilos em desenhos, a solução seria criar estampas personalizadas em tintureiros, cortumes ou casas especializadas nesse serviço, mas a considerar o valor dessa técnica as peças podem ganhar um preço exorbitante muito por conta desse fator. A originalidade criativa custa caro. Então, as grandes casas têxteis interpretam as tendências em estamparia a seu modo e avaliam aos olhos do que se tornou comum nas passarelas daquela estação, passando a produzir km de tecidos iguais, com pequenas variações de cores mas, com design de estampa limitado. Lógico que para comercialização essa produção em massa fica mais em conta. E consequentemente a matéria prima para o estilista fica cada vez mais precária. Diz se não é entediante ver todo mundo pelas ruas usando a mesma estampa de caveiras, ou de 'oncinha'? O pequeno produtor é o mais prejudicado porque cai nesse ciclo e acaba por ser obrigado a produzir aos montes, peças e mais peças com a mesma estampa do concorrente, por exemplo, sem poder competir diretamente de forma criativa. E naturalmente os consumidores são obrigados a vestir sempre e sempre a mesma coisa até que um dia algum produtor têxtil se encante (entenda que animal print é tendência para os próximos 2 anos) com uma nova estampa e produza ela em massa novamente. É um ciclo sem fim. É um recurso pobre e ponto.
Longe de achar uma solução para esse problema as grifes nacionais buscam esse serviço fora e a maioria delas trabalha com tecido colorido e estampado na Europa onde esse mercado é mais eclético e mais em conta. Mesmo que lamentando essa prática cansativa e - que deveria ser desnecessária - necessária os estilistas preferem optar por esse trabalho externo de estamparia para imprimirem em suas coleções um pouco mais de originalidade, arte e verdade em suas peças. Mesmo que seja o batido animal print que seja ele então em escala e designer modificado. Toda marca está a procura da estampa perfeita, aquela que vai chamar a atenção e se destacar numa semana de moda. É fácil um desenho estragar uma roupa e deixar o look inteiro brega, é questão de bom gosto e ter visão de moda para realmente inovar e apostar em traços novos.
O mundo da moda é carente e grita por coisas que vão chacoalhar a industria e firmar boa crítica popular e/ou especializada. E Já que o assunto é estampa e originalidade, há pouco tempo começaram a aparecer por ai as estampas com mapas. De certo, não é possível afirmar a origem dessa ideia de estampar mapas-múndi em tecido, pouco de quem renovou e trouxe esse design para a moda atual, só é certo dizer que ela é a nova querida dos editoriais e criações dos estilistas. Essa é uma grande novidade em anos, nessa área se costuma reciclar muito ou correr por caminhos mais restritos com estampas extremamente autorais e impossíveis de serem adotadas como tendência mundial. Os desenhos em tons neutros e terrosos remetem ao mediterrâneo e aos ares propensos daquela região, e trazem uma proposta bem diferente de estilo. O mapa-múndi pode variar de estampa para estampa, de marca para marca mas, mantém em sua maioria uma mesma base de cor pergaminho bege e areia. Já os traços, também variantes entre cada criação, podem seguir uma linha mais vintage adotando o estilo de mapas antigos feitos a mão por grandes artistas, com anotações legendistas com fontes cursivas bem elegantes e ás vezes até ilustrações de embarcações e lendas. Quanto à um estilo mais moderno com um trabalho pensado em cima de um design diferenciado e no estudo das cores. Para inteirar a produção as peças em osso, madeira, tons de terra, cobre e ouro, combinam perfeitamente.
E já aparecem por ai várias peças, calçados e bolsas seguindo essa tendência dos mapas. É o novo oncinha.

No Brasil quem fez bonito nesse seguimento foi Alexandre Herchcovitch na sua coleção verão 2013 para sua marca de Jeans, apresentada no último Fashion Rio. Com sua coleção inspirada no tempero do oriente, os tons terrosos sobressaltaram e as estampas mapa-múndi apareceram dando características especiais e personalidade às peças.

Quem também faz um trabalho lindíssimo e ama os mapas vintage, é a artista francesa Elisabeth Lecourt. Hoje ela trabalha e vive em Londres expondo seu trabalho e ganhou certo destaque na moda quando passou a produzir delicadas dobraduras que ao final se transformavam no shape de pequenos vestidos. A artista usa mapas de verdade nesse trabalho de escultura em papel. Tudo começou à quatro anos atrás quando Elisabeth se preparava para entrevistar um homem preso em Wormwood Scrubs, um presídio, e pesquisava, lia milhões de livros para construir uma base para um projeto que estava desenvolvendo. Em contato com esse presidiário ele lhe contou que tinha uma filha e sensibilizada pela vulnerabilidade e carinho daquela relação Lecourt pegou um mapa de Londres de suas anotações e livros que carregava na hora, e dobrou rapidamente um vestido de papel para a menina e presenteou o apaixonado pai com o pedaço de papel. Desde então ela não parou mais e já criou uma série desses modelos de vestidos geográficos, que um a um remetem à artista a um lugar, uma emoção. Um mapa de Paris virou um clássico vestido, uma recordação da viagem à França, dos momentos e da moda que ela viu pelas ruas. O projeto dela constrói através desses vestidos geográficos, feitos com mapas específicos dos lugares por onde passa, uma verdadeira bússola de emoções pessoais e que são lindamente exposta como obras de arte para que o mundo possa admirar.

É mapeando estampas e bom gosto que você vai se sentir melhor, único, e se for feito da maneira certa com o design perfeito, ou um stylist caprichado você pode ficar especial entre tanta o comum. Seja original, busque inovação a medida do possível e do seu bolso. Assim como Elisabeth construa seu próprio mapa, sua própria moda, sua própria arte.