QUERO SER FRANCA SOZZANI

Quando se termina um curso superior é chegada a hora mais complicada, a de se inserir no mercado profissional dentro da área para o qual estudou. Evidentemente em algumas profissões existe um caminho óbvio a seguir, em outras nem tanto. E é nesse nem tanto que a moda se encaixa. O campo muito vasto que ela oferece dificulta a escolha sobre o que ser dentro desse universo, aqueles que são agraciados com o dom da criatividade e desenho partem para o estilismo, criação de suas idéias, sonham em lançar sua própria marca e fazer sucesso no mercado. Mas e os que não são dotados de tal proeza? O que eles fazem? Para onde eles vão? Quando a simples apresentação de um diploma não te faz capacitado a ocupar um cargo é que percebemos essa dificuldade. Para atingir o  posto de editora chefe de uma revista de moda é necessário anos de trabalho dedicados e feitos relevantes para a moda, ou seja é preciso galgar um espaço no paraíso. Por esse motivo, é muito complicado chegar lá, são poucos que conseguem não só chegar, mas, se manter lá em cima dessa hierarquia que parece reger a moda mundial. Assim percebemos que algumas dessas figuras se tornam quase míticas. Como no caso de Franca Sozzani.
Editora chefe da Vogue Itália há 24 anos, Franca não só chegou lá como também transformou a revista, criando uma marca singular que hoje faz parte da história da moda. Essa história começou quando a chamaram para trabalhar na Vogue Bambini (Vogue kids italiana), que na época curiosamente era desprezada por diversos profissionais que queriam obviamente trabalhar para a Vogue Itália. Aceitando o emprego ela pôde começar ali o caminho que a levaria ao lugar em que está hoje. Em 1988 quando assumiu o posto definitivo de editora chefe da Vogue Itália, Franca se viu em um sistema regido de cartas marcadas. A famosa revista mais parecia um comercial, onde a cada mês o processo de edição era repetido exaustivamente. A abertura era de Giorgio Armani, seguido de Versace, Ferrer e assim por diante, para agradar os designers italianos nada se modificava, ao contrário de hoje, eles  ditavam o que saía nas revistas especializadas. Seu primeiro passo então foi quebrar essas regras e tirar dos estilistas esse espaço dentro da revista, trocando os fotógrafos, os acessórios e até mesmo os modelos. A partir daí junto com seu amigo e maior colaborador Steven Meisel ela criou seu primeiro grande feito na moda, o de lançar supermodels. O que se busca em uma fotografia é a emoção, sendo assim ela passa a dar sentimentos aqueles até então chamados cabides. Com sua ajuda diversas modelos ficaram famosas e despertaram a curiosidade alheia sobre suas vidas pessoais, pois agora elas eram vistas como pessoas. No comando da Vogue Itália, Franca debateu diversos temas polêmicos, como o da cirurgia plástica, anorexia e modelos plus size, o que deixa claro a sua opinião forte sobre as causas, principalmente as que ela publica. Não tem vergonha de dizer que as pessoas podem lhe dar sugestões mas, no final de tudo o risco deve ser dela, porque é em seu nome que a revista é publicada.
Seria então esse o ingrediente perfeito para se tornar uma dessas conhecidas e temidas editoras de revista? A personalidade forte? Pois quando colocamos Franca Sozzanni, Anna Wintour ou Anna Dello Russo em grau de comparação, todas se sobressaem por serem extremamente diferentes e ao mesmo tempo certas daquilo que querem. Provavelmente isso é algo conquistado durante a carreira, a necessidade de mandar e  dizer tantas coisas para o mundo inteiro deve exigir no final das contas um pouco de frieza, mas, certamente não é só essa qualidade que as levaram até lá. No caso de Franca Sozzani foi a originalidade. O fato de começar a explorar assuntos e pessoas que até então estavam esquecidos. Usando a moda e as imagens da moda como um certo tipo de para-raios cultural, um veículo de combate social, político e até mesmo de questões ambientais. Deve ser por isso que hoje ela é considerada uma das cinco pessoas mais influentes da indústria fashion.