Por Miriã Souza Bonifácio
O reconhecimento do trabalho da maquiadora londrina
Jo Baker coincide com um momento em que a própria maquiagem têm se tornado um pouco mais democrática. Produtos para mais tipos e tons de pele, cores e texturas em descoberta, cosméticos multifuncionais e preços que variam do super caro ao acessível.
É claro que o preconceito não morre só porque o mercado está aquecido em relação aos temas da diversidade e representatividade. Pelo contrário, tudo ainda está em debate e ao ponto de uma disputa de narrativas.
Mas o que eu quero dizer é que com esse movimento mais democrático e de maquiagens super criativas tem sido possível se deslocar de lugares antes um tanto quanto sagrados.
Parece que quando se permite ir além das cores primárias e das velhas dicas de embelezamento com a maquiagem, se consegue olhar para os padrões um pouco mais pelo avesso. E aí, aos poucos, eles vão perdendo os seus sentidos, se desintegrando lentamente e sendo remontados por outros e novos olhares.
A atualização desse mercado, então, está no se inserir melhor em seu tempo e lugar. Nesse sentido, não só grandes marcas, mas profissionais da maquiagem estão buscando serem mais contemporâneos.
|
Após ter sido convidada pelo cantor Usher para criar o visual da turnê dele e se mudar para Los Angeles, Jo Baker firmou parceria com fotógrafos de moda e artistas de Hollywood. À dir, a atriz Lucy Boynton, uma de suas principais clientes. |
Jo Baker olha para uma preparação de pele, aplicação de sombra, contorno ou cílios como quem vê objetos de uma casa, a mesa posta de um café da manhã ou almoço, as ruas sujas da cidade ou os animais que compartilham desse mundo com a gente.
Apesar de confirmar uma tendência das maquiagens com pele mais natural, sem o peso das bases e contornos, o trabalho realizado por Jo Baker não pode ser definido como básico.
Por meio de suas inspirações e criatividade, a maquiadora aposta em estratégias nada convencionais para criar efeitos sonhadores.
Uma delas é a aplicação de uma única sombra em toda a pálpebra e também na parte inferior dos olhos. Nesses casos, não há necessariamente um aprofundamento do côncavo. E essa falta de mistura de cores, ou seja, o efeito monocromático que até alguns anos atrás seria estranho, hoje, é a receita perfeita para um visual mais moderno.
|
O efeito pode ser ainda mais interessante com sombras metálicas, pois elas refletem outras tonalidades e cria ilusionismos. |
|
Efeito na parte infeior dos olhos para uma campanha da Versace e na modelo e atriz inglesa Poppy Delevigne. |
Baker também costuma fazer aplicação dos cílios parte por parte. Ou seja, o truque dela é ir montando os cílios como uma escultura dos olhos para dar o efeito que se quer. Dessa forma, ela vai reinventando esse item e rejeitando a forma padrão na qual eles são produzidos e vendidos.
|
A sobrancelha penteada para cima também acompanha o efeito dos cílios. |
Uma outra reinvenção de Jo Baker é a sua inusitada aplicação com delineador. Nas maquiagens dela, esse item é frequentemente deslocado de sua tradicional utilização na raiz dos cílios superiores e passa a ser um tipo de lápis que desenha o formato do olhar. Nesses casos, ela também flutua por entre delineadores coloridos e outros tipos de materiais como fios de ouro, strass e fitas colantes, e nos convida para uma construção do visual a partir dos grafismos. Tudo nasce de um ponto e com ele é construída uma estética estatizante.
|
O olho de gatinho é deslocado do seu formato padrão e parece ganhar orelhas de verdade na altura do concâvo. |
|
Opções de delineado sem o preenchimento de toda a raiz dos cílios superiores para deixar a impressão de olhos maiores. Ao centro, a atriz Joey King, de A barraca do beijo, com um delineado duocolor. |
|
O rosto de Lucy Boynton parece ser a tela perfeita para as criações de Jo Baker |
|
Indo além do óbvio com Mackenzie Davis. |
|
As sombras, como já mencionamos também se deslocam. Às vezes, até se misturam. E não se trata de um jogo simples de sobreposição, é mais do que isso, é uma narrativa de contrastes.
|
Na área do côncavo ou nas laterais da pálpebras, a sombra pode emoldurar os olhos sem ser óbvia. |
|
Mais uma vez Lucy Boynton experimenta texturas, cores e contrastes.
|
O brilho, o glitter, o momento de extravagância que nos era permitido em pouquíssimas ocasiões, no trabalho de Jo Baker, está presente quase o tempo todo. Quem disse que não pode, quem inventa essas regras? Parece questionar a maquiadora.
|
Algumas inspirações para os brilhos em Lucy Boynton. |
|
O arco na base dos cílios inferiores até a altura do côncavo criam um efeito lua no olhar de Lucy Boynton. |
Não sabemos as respostas para todas as contradições que estamos vivendo, com a quebra de alguns paradigmas ao mesmo tempo em que a presença de estereótipos super conservadores estão sendo reforçados. Mas que sigamos inspirad
♡s pela criatividade, pela arte, pela moda, para continuarmos resistindo. A resposta está no sonhar. Ela sempre esteve!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que achou do post?