REVIEW EDIÇÃO N48 + 10 MOMENTOS MARCANTES DA HISTÓRIA DO SPFW


Por Miriã Souza Bonifácio

A principal semana de moda brasileira chegou ao fim, na última sexta-feira, (18), e deixou além de discussões importantes a se fazer, boas novidades com o aprofundamento da sua relação com o Projeto Estufa

Como era de se imaginar, o SPFW não é mais o mesmo. Não só as mudanças sociais e de narrativas dão o tom, a forma e o discurso das passarelas - com tendências ligadas aos temas da sustentabilidade, diversidade e representatividade, mas também o aspecto de baixo orçamento das marcas têm sido um símbolo do evento nos últimos anos. 

O que eu senti da edição N48 é que mesmo retornando com sua programação para a Bienal, no parque Ibirapuera, o clima era um tanto quanto comedido. Não só se pensarmos no barulho que as novidades da semana de moda costumavam fazer, mas também, talvez, como um reflexo de um mercado mais corroído e interessado pelo digital.

Mesmo assim, a edição não deixou de ser histórica. A tentativa de resistência das pequenas marcas diante de gigantes como a C&A era muito nítida. Enquanto a primeira trazia no contexto a possibilidade e o objetivo de conseguir abraçar um grande número de gostos (e público), com uma proposta mais inclusiva dentro daquilo que o fast fashion pode oferecer, outras, como a carioca Beira, o estreante Isaac Silva e a experimental Ão, tentavam se firmar com uma identidade única e público direcionado. Tudo ao mesmo tempo agora. 

Bastidores do desfile da Ão no SPFW N48. Foto: Sergio Caddah / Fotosite
Assim, se pensarmos que o tamanho e repercussão do evento encolheu na última década, por outro lado, também podemos dizer que tem sido dado mais espaço para o debate de temas sociais. Pelo menos, temos visto que dentro e fora das passarelas essa questão saiu um pouco do lugar de discurso vazio e chegou até ações concretas.

Houve, por exemplo, pela primeira vez, a narração de desfiles para deficientes visuais. Além disso, entre os maiores destaques da edição está o protesto de Sam Porto, no desfile da Cavalera, o primeiro homem trans a desfilar no SPFW.

Sam Porto desfilando para Cavalera no SPFW N48. Foto: Adriana de Maio / Estadão
Veja a nossa lista e relembre outros momentos marcantes e/ou de resistência histórica do evento:

#10 - A Pina Bausch de Ronaldo Fraga em 2010


O inverno 2010 de Ronaldo Fraga foi influenciado pela imagem do espetáculo Café Müller, da bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch (falecida um ano antes, em junho de 2009). Os tons escuros contrastados com os xadrezes, as tranças longas e no rosto das modelos, cegando-as, deram uma alta carga dramática para o desfile, que ficou conhecido como um dos mais emocionantes do SPFW.

#9 - Pedro Lourenço lançando sua marca na passarela do SPFW em 2005


Aos 19 anos, Pedro, que é filho dos estilistas Glória Coelho e Reinaldo Lourenço, lançava oficialmente a sua marca durante a edição de inverno do SPFW 2005. Após o lançamento, o estilista desfilou em Paris e Nova York e voltou até a semana de moda brasileira em 2012, depois de ter se consagrado. O seu primeiro desfile no evento, contudo, ficou marcado pelo que se chama de nascimento de um ícone da moda. 

#8 - O beijo lésbico para Lino Villaventura em 2014


As imagens fortes e delirantes produzidas por Lino Villaventura se transformaram em imagens de força na temporada inverno de 2014. O beijo protagonizado pelas modelos Isabel Hickmann e Alicia Kuczman não deixou dúvidas de que a passarela do SPFW estava querendo falar de resistência e afetividade. Algo que foi confirmado nas edições posteriores. 

#7 - As marionetes de Fause Haten


Na temporada verão de 2014, Fause Haten estampou a capa do caderno estilo do jornal francês Le monde. Sua coleção para o SPFW, apresentada no teatro FAAP, chamou bastante atenção ao trazer marionetes no lugar de modelos. Segundo Fause, a ideia era romper com o tradicional e dar lugar ao sonho. No entanto, o desfile ficou conhecido como uma crítica aos padrões impostos pela própria ideia de moda. 

#6 - Gabriella Pascolato, aos 86 anos, na passarela da Zapping


Gabriella Pascolato, empresária da indústria têxtil  e mãe da consultra de moda e estilo Costanza Pascolato, foi recebida com chuva de papel picado e uma bandeira com os dizeres “God, save the Queen of Fashion” (Deus, salve a rainha da moda) na passarela da jovem e cheia de cores Zapping, em 2003. O desfile, então, virou um grande palco para modelos de todas as idades, numa clara mensagem de que a moda precisava ser mais inclusiva.

#5 - As celulites de Karolina Kurkova para Cia Marítima em 2008


A top model Tchéca Karolina Kurkova era a principal atração da temporada verão do SPFW em 2008. Conhecida como uma das angels na mais famosa marca de lingeries do mundo, a Victoria's Secrets, a modelo surpreendeu a preconceituosa audiência se apresentando com um corpo absolutamente normal e, ainda, muito distante do padrão real. Com as polêmicas e burburinhos em torno de suas supostas celulites, Kurkova deixou uma discussão importante para a moda da época. Em 2006, a modelo brasileira Ana Carolina Reston, 21 anos, havia morrido diagnosticada com anorexia. 

#4 - A escola de samba no verão 2003 da Fórum


Com direção criativa de Tufi Duek e cenografia de Joãosinho Trinta, o verão da Fórum em 2003 foi um dos mais comentados da história do SPFW. Isso porque não se tratava apenas do carnaval fora de época que movimentou os bastidores e a passarela do evento, mas da identidade do Brasil que pela primeira vez estava sendo retratada daquela forma no mundo fashion. Uma fusão do que há de mais popular com o que havia de mais inalcançável ao povo brasileiro. 

#3 - A estreia de Léa T. para Alexandre Herchcovitch em 2011


Já como uma sensação na moda internacional, e estrela da francesa Givenchy, a modelo Lea T. fez a sua estreia nas passarelas brasileiras na temporada inverno 2011 do veterano Alexandre Herchcovitch. A ideia de Anderson Baumgarten (da Way Model), de colocar a transexual para encerrar uma importante coleção no seu país de origem, era a de reforçar a importância da representatividade na moda brasileira e causar um barulho. Com Drag queens na primeira fila e tumulto nos bastidores, podemos dizer que o objetivo dele foi alcançado. Em 2015, Lea foi eleita pela revista Forbes como uma das 12 mulheres que mudaram a moda.

#2 - O retorno de Gisele Bundchen como superstar no SPFW 2000


Dava para fazer uma lista só com os momentos marcantes dela no SPFW, tamanha a importância de suas passagens pelo evento. Porém, a volta de Gisele Bundchen para as passarelas brasileiras, depois de estourar fora do país, no verão da Zoomp, em 2000, marcou um momento histórico na carreira da modelo. Em um ano ela saiu do Brasil como a new face promissora e em outro voltou para se confirmar como a maior e mais bem sucedida estrela do mundo fashion contemporâneo. Desde então, os bastidores do SPFW com Gisele nunca mais foram tranquilos.

#1 - Jum Nakao e os vestidos de papel destruídos na passarela em 2004


O longo atraso com a montagem das peças no corpo das modelos na hora do desfile de Jum Nakao, no SPFW de 2004, já faz parte da galeria de memórias do evento. Com os looks sendo destruídos ao final do desfile, o estilista provou que mesmo aquilo que não dura pode ser inesquecível. 

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