Por Matheus Bragansa
Há, em todo momento, uma sucessão de acontecimentos que escapam às lógicas vigentes e estabelecem, a posteriori, novos rumos. Esse impulso para o futuro, ânsia sempre presente nos desejos essenciais do ser humano, pode paralisar estruturas que recusam a mudança.
Foto: Daniella Rech. |
Após muita especulação, é oficial: Victoria's Secret Fashion Show está oficialmente cancelado.
“Estamos descobrindo como avançar no posicionamento da marca e melhor comunicá-la aos clientes”, diz Stuart B. Burgdoerfer, vice-presidente da L Brands, conglomerado dono da VS.
Após um período de glória, em que os desfiles, a forte presença das angels e de cantores influentes solidificaram a imagem da marca, a Victoria's Secret passou a ser intensamente criticada pela falta de diversidade na passarela e campanhas publicitárias.
Mas ela não arredou o pé. Ed Razek, diretor criativo, chegou a dizer para a Vogue americana que pelo caráter onírico e fantasioso do show da V.S, o desfile não poderia jamais incluir transsexuais.
Foto: Reprodução. |
A diminuição de espectadores é significativa: a sociedade contemporânea parece não estar mais interessada em tais sonhos. Há, nos dias correntes, um amplo elã que busca impedir a criação de um ideal estético - algo que a Victoria's Secret faz com afinco desde 1995.
Foto: Russell James (Backstage Secrets). |
A predominância dos corpos brancos, a absoluta exigência da magreza, da altura, da lisura dos cabelos, fez do show uma intensa violência simbólica, destruindo irrestritamente a multiplicidade da arte, da vida, da moda, das mulheres, dos seres humanos.
Foto: Daniella Rech. |
Para a Victoria's Secrets há um só tipo de beleza. Mas essa unicidade impede a comunicação da marca com a nova alma do mundo. O cancelamento do show é metáfora da corrida estereotipada empreendida pela V.S em direção a um molde que não existe. Agora a Victoria's Secret será obrigada a render-se perante a orgia da tolerância, do sincretismo e do absoluto e irrefreável politeísmo da beleza.
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