A desenharia de Renato Mendonza


Dos processos mais encantadores de fazer moda, a criação é de longe a mais prazerosa. O desenho de moda, parte crucial e visual dessa construção, agrada até quem não entende nada sobre arte ou sobre costura. O croqui é a arte primária de todo o trabalho criativo e design em tecido que se segue depois de traços, cores e sombras. Quando falamos de croqui, nem todo estilista é o melhor ilustrador, nem todo ilustrador se torna um bom estilista, no fim tudo se resume a capacidade de criar a melhor roupa, o melhor para a moda é a criatividade. Admiradores da moda como arte ou da arte em si independente do produto, já se viu por ai apaixonado por desenhos de moda, seja pela habilidade da desenhista da loja de tecidos até os coloridos traços de Karl Lagerfeld.
Existem várias páginas e grupos no Facebook especialmente dedicados a expor trabalhos e artistas que adoram desenhar. Em sua maioria, esses artistas são bem novos no mercado e sequer sonham em ter seus desenhos reproduzidos em tecidos, produzem suas artes por livre expontânea vontade de ter seu trabalho visto por outras pessoas e outros artistas. O jovem Renato Mendonza é um desses artistas que faz um trabalho perfeito quando se trata de juntar criatividade, arte e lápis. O ilustrador mantém regularmente sua página no facebook (a caderno de desenhos e outras coisas belas), repleta de desenhos inspiradores e previamente inspirados em moda, poesia, música brasileira e natureza. Renato tem somente 20 anos e nasceu no Rio Grande do Norte onde vive até hoje


Com qual idade você começou a desenhar? Fez algum tipo de especialização?
Desenho desde criança, na verdade, mas o dia em que parei e disse: "nossa é isso que quero pra minha vida" foi a uns quatro anos atrás, eu tinha começado o ensino médio e surgia aquela efervescência de idéias sobre o futuro, daí eu decidi que desenharia, porque afinal é a única coisa que eu sei fazer direito.


Todo mundo pensa que desenhar é mais simples do que parece, imagino. Conte um pouco do seu processo de trabalho?
Chega a ser incômodo até esse pensamento que é fácil desenhar, "ai você faz isso num instante!" "Pra você Isso é fácil" eles dizem, ao tempo que não sabem desenhar uma bola redonda, mas tem coisas que é melhor nem mencionar... Não sei ao certo como se desenvolve o processo (risos) tem esse lance da inspiração, que eu compreendo meio que como um modo de observar o mundo, tudo pode inspirar, ou nada pode. Mas a arte acaba gerando arte, eu gosto de ver o mundo sem preconceitos, observar as cores e formas que brotam ao meu redor, as pessoas, os animais, os dias passando apressados ou lentos,"eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome.." como diria Adriana Calcanhoto. E desse meu observar das coisas que vivem fora e dentro de mim é que surge minha arte. É uma fotossíntese.






Porque desenhar moda e não outra coisa?
Na verdade eu desenho também outras muitas coisas, mas sou declinado para a moda, eu gosto de roupa, corpo, pano e de toda essa estética que o universo da moda oferece.


Você divulga todas as suas ilustrações na internet, na sua página no facebook e em grupos especializados. Você gosta do retorno das pessoas? Qual é a sua reação quando o comentário é ruim e quando é positivo?
Eu adoro ler comentários, conversar sobre, ver o que as pessoas acham. Mas considero apenas uma parte disso, é claro que fico feliz ao receber comentários positivos, mas costumo manter minha cabecinha bem centrada para não me iludir com a vaidade de alguns elogios, cada artista sabe seu próprio nível, ou pelo menos deveria saber. Existe um grau de desenvolvimento que apenas eu sei compreender, isso diz respeito ao caminho que eu fiz pra chegar até ali e ao caminho que eu pretendo seguir. Então é ótimo ver quando as pessoas curtem, mas eu costumo resguardar minha crítica pessoal a mim mesmo. Também nunca divulgo um desenho que não esteja num nível bom para ser visto, tem coisas que é melhor esconder... Quanto a comentários negativos: existem os construtivos, dicas sobre o que melhorar e tals, que é sempre bom aceitar, principalmente se vem de artistas legais, e os verdadeiramente negativos, que sempre vem de uma galerinha sem noção que se acha estilista sem saber nem o que é moda, a gente releva.


Você se inspira diretamente em algum designer/estilista? Quais são suas influências?
Eu gosto de muitos estilistas e sou praticamente um devoto de Coco Chanel, mas isso num sentido ideológico, gosto da história dela, do conceito de moda e liberdade, o discurso que ela introduz no mundo, para além da indumentária. Porque a moda é uma voz acima de tudo, é uma voz social, e cada estilista imprime seu grito e o faz ecoar. Gosto dos ecos da voz de Chanel, pregando a suprema elegância da simplicidade e liberdade; de Christian Dior, o legado da feminilidade; a voz de arte de Shiaprelli; da new art de Saint Laurent; da moda pela arte de McQueen; a brasilidade de Fraga e a irreverencia de Westwood. Sim eu gosto de bastante gente, e adoro estudar história da moda.







Você costuma ler revista de moda, assistir desfiles, ler livros sobre estilistas? Qual é a sua relação com a moda?
Não gosto de revista de moda, mas gosto de revistas antigas tipo aquelas que se encontra em sebo e tem um pouco de tudo, incluindo uma página de moda. Adoro filme de todos os tipos, isso inclui os com temática de moda, livros igualmente. Mas sou um tanto crítico quanto a literatura, acho que isso adquiri na faculdade (De Letras). Eu meio que tenho a moda como algo muito sério, mas não creio que as pessoas devam se fechar no universo fashion, acho isso incoerente, acredito que, e busco, pegar coisas de fora da moda para agregar a ela, aquilo que vem da arte e da literatura, do cinema, da natureza, da cultura popular é muito mais importante para mim do que o que vem da passarela. Mas tento ficar atualizado do que acontece no cenário fashion.


Você cursa a faculdade de Letras e na sua página pessoal do facebook você deixa bem claro que adora ler e ama música popular brasileira. Conte um pouco como as palavras te inspiram para o seu trabalho com os desenhos. Ou não há nenhuma relação?
A faculdade de letras envolve muito mais que as palavras e gramática e essas coisas que aprendemos na escola quanto a lingua portuguesa, aprendemos muito sobre linguagem, e acredite a moda é uma linguagem social muito explicita. Todos os dias antes de sair de casa escrevemos um texto na frente do espelho, o próprio estilo é um texto cuidadosamente elaborado e evidencia um voz discursiva pessoal. A literatura e música por sua vez são importantíssimas fontes de inspiração, a arte literária é completa em transmitir sentimentos e emoções, além de viagens extraordinárias para lugares e mentes, e a música não tem nem o que falar. Imagine um mundo sem música? Seria pior que um mundo sem moda, sem cor e sem graça. Também sou bem eclético em relação a música, mas a música que se faz no Brasil é de uma variedade incrível, como tudo que se está relativo a nossa cultura, e merece ser desvendada, e desvendar é a palavra porque sempre dá para descobrir coisas novas, temos internet para isso.





Qual sua dica para quem quer se tornar um bom ilustrador ou quem ainda esteja começando, procurando o próprio traço?
Esse lance de traço é uma coisinha meio complicada, acho que você primeiro tem que saber quem você é ou quem você quer ser, se compreendemos a arte como voz. Você tem que saber o que quer falar e como vai falar isso, daí descobre que falou parecido. Creia que certamente alguém já pensou algo um mínimo semelhante. Veja o que seus artistas idolatrados fazem e veja o que você pode fazer igual e diferente, dai quando você souber tudo isso e descobrir seu traço, esqueça tudo e comece a se reinventar, ninguém precisa ser igual para todo sempre.



Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou do post?